terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Corpo - Nosso espelho, amigo e protetor da alma


Um dos temas mais complexos que existe atualmente é o corpo. Com a desenfreada ditadura da moda, que prega que o padrão mundial de beleza é magreza extrema, tanto para homens como mulheres, quem não faz parte desse modelito acaba sofrendo preconceito e baixa auto estima. 

Vocês já devem ter ouvido falar algumas frases de terapeutas em geral (sim, os próprios!) falando que as pessoas magras são 'resolvidas' consigo mesmas, enquanto as pessoas gordas ou acima do peso estão com algum 'problema'. Aliás, eles nem falam 'problema', eles comentam a expressão 'carência'. 

Parto da opinião pessoal, de que, cada um é um mundo extremamente complexo e profundo. Portanto, eu seria limitada, se dissesse que todos os gordinhos ou gordinhas do mundo são assim porque tem 'problemas'. Aliás, quem não tem problemas? Quem não tem complexos a serem resolvidos em seu inconsciente? Isso independe da pessoa ser magra ou gorda.

Vi pessoas gordinhas extremamente felizes com sua aparência - Pessoas sedutoras, que atraem quem elas bem querem! Já vi pessoas magras que não conseguem atrair ninguém. Já vi também, o contrário. Enfim, o corpo como algo estético para se viver em sociedade, não é o foco.

Sabe qual é o foco? Estar bem consigo mesmo. Esse é o foco. É você amar quem você é, e amar seu corpo de três formas: reconhecê-lo como um espelho do que você traz dentro de seu coração ; tratá-lo como um amigo querido, aquele a quem devemos cuidar como uma plantinha, fazendo todos os reparos necessários para que ele tenha seu melhor aproveitamento ; e respeitá-lo como um protetor de sua alma, que guarda em suas células todas as experiências espirituais que você traz de várias vidas! 

Já parou para pensar como seu corpo é inteligente? Se um dia por curiosidade, você estudar sobre o funcionamento de um órgão específico do corpo humano, você verá o trabalhão que ele tem para manter você funcionando direito. Quer um exemplo mais cotidiano? Quando nós nos machucamos, você reparou o quanto a cicatrização é rápida? O quanto suas células estão trabalhando para que você fique bem? 

Nem preciso dizer das doenças né? Todas as doenças são apenas um estágio avançado daquelas coisas desagradáveis que você guarda em seu inconsciente e em seu espírito...O que será que essa doença ou problema de saúde quer te dizer? Já parou para pensar como você estava se sentindo nos últimos dias? Ou estava tão no 'piloto automático' que nem reparou que você estava estressado(a)? 

Por isso queridos e queridas, vamos pensar um pouco nisso nesses próximos dias...Ao se alimentar, alimente-se sim daquilo que você gosta. Mas se você sabe que determinado alimento agride muito uma determinada parte de seu corpo, evite um pouquinho, em amor ao seu corpo. Coma devagar, ingerindo e saboreando cada grão de arroz, cada pedacinho de sua mistura preferida. Sinta o amor no momento de fazer sua refeição. Sinta que você está alimentando essa máquina linda que você tem com você!


Um trecho LINDO do livro 'Mulheres que Correm com os Lobos' expressa em palavras sábias da escritora Clarissa Pinkola tudo aquilo que eu acredito sobre o corpo. Ela fala sobre as mulheres, mas acredito que os homens também poderão aproveitar desse trecho: 

A fala do corpo
" Minha amiga Opalanga, uma gríot, contadora de histórias, afro-americana, e
eu costumamos contar em conjunto uma história chamada "A fala do corpo" que trata
da descoberta de bênçãos ancestrais dos nossos parentes. Opalanga é muito alta,
como um teixo, e esbelta como ele. Já minha estrutura é mais próxima do chão, com
um corpo exuberante. Além de ser alvo de deboche por ser alta, Opalanga, quando
criança, ainda tinha de ouvir que seus dentes incisivos separados eram um sinal de
ser ela mentirosa. Já a mim diziam que o tamanho e o formato do meu corpo eram
indícios de um ser inferior desprovido de autocontrole.
Enquanto estamos contando juntas nossas histórias sobre o corpo, Opalanga e
eu falamos dos golpes e flechadas que recebemos durante a vida inteira porque, de
acordo com os Outros, com letra maiúscula, aos nossos corpos faltava algo ou sobrava
algo. Na nossa apresentação, cantamos um lamento pelos corpos que não nos foi
permitido usufruir. Dançamos, nos balançamos e olhamos uma para a outra. Nós
duas consideramos que a outra tem uma aparência misteriosa tão bela que como
pôde alguém pensar o contrário?
Quando conheci Opalanga, nós duas tivemos a impressão de que nos
conhecíamos, como costuma acontecer com as contadoras, não a vida inteira, mas há
séculos. Entabulamos conversa sobre nossas histórias mais íntimas. Como fiquei
perplexa ao ouvir que, já adulta, ela havia viajado até a Gâmbia, na África ocidental, e
encontrado alguns membros da sua linhagem que, pasmem!, tinham na sua tribo
muitas pessoas altas como teixos, esbeltas e com os incisivos separados. Explicaramlhe
que essa separação se chamava Sakaya Yallah, que quer dizer "abertura de
Deus"... e era interpretada como um sinal de sabedoria.
Qual não foi a sua surpresa quando eu lhe disse que eu também, já adulta,
havia viajado até o istmo de Tehuantepec no México e descoberto descendentes dos
meus antepassados que, pasmem!, eram uma tribo de mulheres gigantes fortes,
brincalhonas e imponentes no tamanho. Elas me haviam dado tapinhas1 e pequenos
puxões, observando abertamente que não estava suficientemente gorda. Eu comia o
suficiente? Será que eu não havia estado doente? Elas explicaram que eu devia me
esforçar pois as mulheres são La Tierra, redondas como a própria Terra, pois a Terra
contém muito.
Portanto, na apresentação minha e de Opalanga, como nas nossas vidas,
nossas histórias pessoais, que começaram com experiências repressoras e
deprimentes, terminam com um sentido forte e jubiloso do self. Opalanga entende
que sua altura é sua beleza, seu sorriso é de sabedoria e que a voz de Deus está
sempre perto dos seus lábios. Eu entendo que meu corpo não é separado da terra, que
meus pés foram feitos para firmar minha posição, que meu corpo tem a forma de um
recipiente feito para conter muito. Nós duas aprendemos, com gente vigorosa fora da
nossa própria cultura norte-americana, a reavaliar o corpo, a refutar idéias e
expressões que ultrajassem o corpo misterioso, que ignorassem o corpo feminino
enquanto instrumento de conhecimento.
Extrair grande prazer de um mundo repleto de muitas espécies de beleza é
uma alegria na vida à qual todas as mulheres fazem jus. Defender apenas um tipo de
beleza é de certo modo não observar a natureza. Não pode haver apenas um tipo de
ave canora, apenas uma variedade de pinheiro, apenas uma qualidade de lobo. Não
pode haver apenas um tipo de bebê, de homem ou de mulher. Não pode haver apenas
um formato de seio, de cintura, um tipo de pele.
Minhas experiências com mulheres avantajadas no México fizeram com que eu
questionasse todo o conjunto de premissas analíticas relacionadas aos diversos
tamanhos, formatos e, especialmente, pesos das mulheres. Uma antiga premissa
psicológica, em especial, pareceu-me absurdamente equivocada: a idéia de que todas
as mulheres avantajadas têm fome de alguma coisa, de que "dentro delas existe uma
pessoa magra que grita para sair". Quando sugeri essa imagem da "mulher magra que
grita" a uma das majestosas mulheres da tribo tehuana, ela ficou me observando com
certo alarme. Ela me perguntou se eu estava querendo dizer "uma possessão por um
espírito malévolo". "Quem iria pôr um ser tão perverso dentro da mulher?" Estava
além da sua capacidade de compreensão a possibilidade de que "curandeiros" ou
qualquer outra pessoa pudessem considerar que uma mulher, só por ser grande por
natureza, tivesse dentro de si uma mulher aos gritos.
Embora sejam verdadeiras e trágicas as perturbações da alimentação
compulsiva e destrutiva que deformam as dimensões do corpo, elas não são a norma
na maioria das mulheres. É mais provável que as mulheres que são grandes ou
pequenas, largas ou estreitas, altas ou baixas, sejam assim simplesmente por terem
herdado a configuração corporal dos seus parentes; se não dos seus parentes
imediatos, então dos parentes de uma geração ou duas no passado. Difamar ou julgar
o físico herdado de uma mulher é criar gerações e mais gerações de mulheres
ansiosas e neuróticas. As críticas destrutivas e desdenhosas a respeito da forma
herdada de uma mulher privam-na de diversos tesouros psicológicos e espirituais
preciosos e de vital importância. Privam-na do orgulho pelo tipo de corpo que lhe foi
transmitido por linhagens de antepassados. Se lhe ensinarem a rejeitar essa herança
física, ela será imediatamente desvinculada da sua identidade corporal feminina com
o resto da família.
Se lhe ensinarem a detestar o próprio corpo, como poderá ela amar o corpo da
mãe, que tem a mesma estrutura que o seu? — ou o corpo da avó, ou das suas filhas
também? Como poderá ela amar os corpos de outras mulheres (e homens) próximas
a ela que tiverem herdado o corpo dos mesmos antepassados? Semelhante agressão a
uma mulher destrói seu legítimo orgulho de parentesco com sua própria gente e lhe
rouba a alegria natural que ela sinta por seu corpo, não importa qual seja sua altura,
tamanho ou forma. No fundo, a agressão ao corpo da mulher é uma agressão de longo
alcance que atinge tanto os que vieram antes dela quanto os que chegarão depois.
O que acontece é que críticas ásperas a respeito da aceitabilidade do corpo
criam uma nação de garotas altas corcundas, de baixinhas sobre pernas de pau, de
mulheres avantajadas vestidas como se estivessem de luto, de outras muito magras
que tentam se inflar como serpentes e vários outros tipos de mulheres que se
escondem. Destruir o vínculo instintivo da mulher com seu corpo natural subtrai-lhe
a confiança. Faz com que ela insista em descobrir se é uma boa pessoa ou não, e
baseia sua auto-estima na sua aparência em vez de na sua essência. Ela é pressionada
a gastar sua energia preocupando-se com a quantidade de alimento que consome,
com os números na balança ou na fita métrica. Essa destruição lhe dá uma idéia fixa e
influencia tudo o que ela faz, planeja e prevê. No mundo instintivo, é inconcebível
que uma mulher viva absorta desse jeito com sua aparência.
Faz total sentido manter-se saudável e forte, cuidar do corpo da melhor forma
possível. No entanto, devo admitir que muitas mulheres têm uma "faminta" dentro
de si. Em vez de "famintas" por ter um certo tamanho, formato ou altura; em vez de
"famintas" por se adequar ao estereótipo, as mulheres têm fome de consideração
básica por parte da cultura que as cerca. A mulher "faminta" ali dentro anseia por ser
tratada com respeito, anseia por ser aceita,8 e no mínimo anseia por ser vista sem
preconceitos. Se realmente existe uma mulher "gritando para sair", ela está pedindo
aos gritos que terminem as projeções desrespeitosas que os outros lançam sobre seu
corpo, seu rosto, sua idade.
A patologização da variação nos corpos femininos é uma tendência profunda
endossada por muitos teóricos da psicanálise, sem a menor sombra de dúvida por
Freud. Martin Freud, por exemplo, em seu livro sobre o próprio pai, Sigmund, relata
que a família inteira desprezava e debochava das pessoas corpulentas. Os motivos
das opiniões de Freud estão fora do âmbito deste trabalho. É difícil, porém, entender
como uma atitude desse tipo poderia contribuir para uma perspectiva equilibrada dos
corpos das mulheres.
Mesmo assim, basta afirmar que vários profissionais da psicanálise continuam
a transmitir esse preconceito contra o corpo natural, estimulando as mulheres a
voltar a atenção para um monitoramento constante do mesmo, privando-as, assim,de
relacionamentos mais profundos e mais refinados com a forma que herdaram. A
angústia quanto ao próprio corpo subtrai à mulher uma fatia considerável da sua vida
criativa e da sua atenção a outros aspectos.
Esse estímulo a que a mulher comece a tentar esculpir seu próprio corpo é
extraordinariamente semelhante ao processo de escavar a própria terra, queimá-la,
descascar suas camadas, desnudá-la até os ossos. Onde exista uma ferida nas psiques
e nos corpos das mulheres, existe uma ferida correspondente no mesmo local na
própria cultura e, finalmente, na própria natureza. Numa psicologia de caráter
verdadeiramente holístico, todos os universos são interpretados como
interdependentes, não como entidades autônomas. Não é de espantar que na nossa
cultura coexistam a questão de esculpir o corpo natural da mulher, a questão
correlata de entalhar a paisagem e ainda a de retalhar a cultura em partes que
estejam na moda. Apesar de uma mulher não ter condição de parar a dissecação da
cultura e das terras da noite para o dia, ela tem condição de interromper esse
processo no seu próprio corpo.
A natureza selvagem jamais defenderia a tortura do corpo, da cultura ou da
terra. A natureza selvagem jamais concordaria em açoitar as formas com o objetivo
de provar valor, "controle" ou caráter, de tornar essas formas mais agradáveis ao
olhar ou mais valiosas em termos financeiros.
Uma mulher não pode tornar a cultura mais consciente apenas com a ordem
de que se transforme. Ela pode, no entanto, mudar sua própria atitude para consigo
mesma, fazendo com que projeções desvalorizadoras simplesmente ricocheteiem.
Isso ela consegue ao resgatar seu corpo. Ao não renunciar à alegria do seu corpo
natural, ao não "comprar" a ilusão popular de que a felicidade só é concedida àqueles
de uma certa configuração ou idade, ao não esperar nem se abster de nada e ao
reassumir sua vida verdadeira a plenos pulmões, ela consegue interromper o
processo. Essa dinâmica do amor-próprio e da aceitação de si mesma são o que dá
início à mudança de atitudes na cultura."


Com amor, Karen Thiemi.